Sejam bem vindos à nova rúbrica do canal Tuga Vegetal. A ideia é pegar em vários temas à volta do veganismo e abordá-los de forma prática. Há muita gente que quer mudar a sua alimentação ou estilo de vida e viver de uma forma mais sustentável e com mais compaixão mas simplesmente não sabe por onde começar. Espero com esta nova rúbrica ajudar nessa caminhada.
Hoje (e no blog em geral) escolho focar-me mais no aspecto da alimentação, pois é aspecto com maior carga emocional e social. Para simplificar, vou utilizar as definições internacionalmente aceites quando se fala de comida:
- vegano: não leva nada de origem animal (que são todas as receitas que partilho no blog)
- vegetariano: pode levar derivados como lacticínios, ovos, mel.
Qualquer dúvida que gostassem de ver esclarecida numa futura publicação ou qualquer ideia ou tema que tenham em mente, por favor deixem um comentário.
Vou tentar manter isto breve e fofo, com imagens deliciosas à mistura, e pegar em questões mais gerais. Possivelmente algumas delas desenvolverei em publicações futuras.
Cliquem nas questões para saltarem para a pergunta correspondente:
- Vou ter que abdicar de comer coisas que gosto? Comer vegano é limitado ou aborrecido?
- Como faço a substituição da carne/peixe/derivados?
- Qual é a melhor maneira de fazer a transição? De um dia para o outro ou lentamente?
- O que faço se tiver desejos de comer alguma coisa com produtos animais?
- Então quer dizer que posso continuar a comer coisas que gosto mas em versão vegetal? Como faço isso?
- Comer vegano é mais caro?
- Comer vegano implica mais planeamento e mais tempo na cozinha?
- Além da alimentação vou ter que me livrar de todos os meus artigos de origem animal como roupa ou cosméticos?
- Como lidar com a família e amigos durante esta mudança?
- Onde encontrar apoio e motivação?
1. Vou ter que abdicar de comer coisas que gosto? Comer vegetariano é limitado ou aborrecido?
A resposta curta é: não. Mas deixem-me explicar. Esta pergunta ou variações dela são a razão mais comum para as pessoas ficarem de pé atrás em relação a comida vegana. Vêem esta mudança como um sacrifício e não como uma oportunidade de experimentar novos sabores e texturas.
Eu própria já tive esta dúvida, mas o que descobri foi que é possível continuarmos a saborear aquilo que gostamos, não só porque hoje em dia já há uma enorme diversidade de alimentos vegetarianos chamados de ‘substitutos’, por exemplo enchidos, queijos vegetais, substitutos da carne, etc.; mas também porque normalmente os sabores que gostamos estão nos temperos que são maioritariamente de origem vegetal. Para gerir expectativas, digo-vos que nem sempre irão encontrar réplicas exactas dos pratos originais, mas na verdade o que o nosso cérebro procura é um sabor/textura/aroma que nos mexa nas memórias e isso conseguimos fazer muito bem com as versões vegetais dos nosso prato preferidos.
Portugal tem uma gastronomia tão rica, que eu percebo que esta questão seja a maior entrave a uma mudança de alimentação. Quando criei o canal e o blog a ideia foi exactamente mostrar que é possível continuarmos a comer com sabores da nossa infância e tradição usando ingredientes 100% vegetais. Os Pastéis de Bicalhau foram a prova disso, recebi imensas mensagens de pessoas que os fizeram e partilharam com não-veganos que adoraram e pediram a receita.
E digo-vos mais, não só é possível cozinhar como já fazíamos antes, como ainda acabamos por descobrir novos sabores, ingredientes e texturas.
2. Como faço a substituição da carne/peixe/derivados?
A substituição mais directa, seria substituir a carne por leguminosas (grão, feijão, ervilhas, favas, lentilhas…), mas em vez de nos focarmos apenas em substituir um ingrediente o melhor é olharmos para a nossa refeição como um todo. Isto permite-nos equilibrar melhor os grupos de alimentos que ingerimos e estimula a criatividade para fazermos pratos diferentes daqueles que conhecemos.
Vejam aqui O Prato Vegetal, cortesia do site theveganrd.com que pertence a uma nutricionista vegana que me deu permissão para o traduzir.
3. Qual é a melhor maneira de fazer a transição? De um dia para o outro ou lentamente?
A resposta a esta pergunta é completamente individual. Se se sentem preparados para o fazer de um dia para o outro: óptimo. Se preferem fazer uma transição mais lenta: óptimo. O que resultar melhor para vocês é a resposta certa.
Eu pessoalmente sou a favor de uma transição lenta (a velocidade é escolhida por vocês) que dure algumas semanas, alguns meses ou até anos. Isto porque é mais fácil incluir refeições vegetais na nossa rotina se apenas o fizermos 2 ou 3 dias por semana e nos outros dias continuarmos a fazer o que sempre fizemos e depois vamos aumentando a frequência das refeições vegetais. Podemos também decidir deixar alguns tipos de produtos e substitui-los por produtos de origem vegetal. Por exemplo, começar por cortar a carne vermelha do cardápio e todas as refeições que faríamos com carne vermelha passamos a fazer vegetarianas ou veganas.
Isto também dá tempo ao corpo de se habituar, pois ao ingerirmos mais produtos de origem vegetal que contêm naturalmente mais fibras o nosso sistema digestivo vai ter que se adaptar. Idas à casa-de-banho mais frequentes são perfeitamente normais. Possivelmente nos dias em que comemos vegetariano/vegano vamos necessitar de encher mais o prato ou fazer mais refeições, pois os vegetais têm mais volume e menos densidade calórica do que produtos de origem animal. Ao fazermos a transição devagar, o nosso organismo e as nossas rotinas têm tempo de se adaptar. E assim é mais fácil de manter a longo prazo as mudanças que vamos fazendo.
4. O que faço se tiver desejos de comer alguma coisa com produtos animais?
Muitas das vezes estes desejos não são sobre aquele prato em específico, mas sobre alguma característica do prato. Se pensarmos um pouco conseguimos perceber se nos apetece algo doce, salgado, amargo, picante ou se é aquela textura específica ou o molho. Depois de percebermos o que queremos realmente, podemos preparar uma versão vegetal desse prato ou outra coisa completamente diferente mas com as mesma características.
Outra coisa que ajuda bastante é fazermos um exercício de reflexão e lembrarmo-nos dos motivos que nos fizeram querer mudar.
5. Então quer dizer que posso continuar a comer coisas que gosto mas em versão vegetal? Como faço isso?
Por exemplo, hoje em dia já há alternativas vegetais para todo o tipo de lacticínios, desde um sem fim de leites vegetais a natas de soja ou de arroz para cozinhar ou para bater, iogurtes de leite de côco, soja, etc.
Para os ovos, dependendo da preparação podemos utilizar sementes de linhaça ou chia com água, banana esmagada, aquafaba (água da cozedura de leguminosas), farinha de grão de bico, tofu, etc.
Para carne/peixe podemos substituir por leguminosas ou se procuramos uma textura mais similar temos o seitan, tempeh ou tofu ou mesmo produtos substitutos da carne.
6. Comer vegano é mais caro?
Esta ideia é muito frequente mas está longe da verdade na maioria dos casos. A não ser que uma pessoa coma exclusivamente substitutos da carne industrializados, que sim são caros mas nem sempre são saudáveis, uma alimentação vegetal equilibrada é mais barata. Basta comparar o preço de um saco de leguminosas com uma embalagem de carne, que seria o mais próximo de uma substituição directa. Mas este tópico da poupança abordarei noutra publicação desta rubrica.
7. Comer vegano implica mais planeamento e mais tempo na cozinha?
Como qualquer mudança, esta implica alguns ajustes iniciais. É possível que nas primeiras semanas seja necessário planear melhor as compras e as refeições para que tenhamos todos ingredientes à mão e saibamos o que vamos cozinhar. Com o tempo torna-se algo natural. Lembrem-se que no passado também tiveram que aprender a cozinhar o que sempre cozinharam até hoje e nessa altura longínqua se calhar também planeavam mais e passavam mais tempo na cozinha.
Em geral muitos pratos equilibrados que podemos fazer na cozinha vegetal demoram o mesmo ou menos tempo do que pratos tradicionais, pois não temos que lidar com ossos ou espinhas (o que é uma vantagem na hora de limpar também). Cozer leguminosas secas é possivelmente a tarefa que mais tempo demora, mas é algo que pode ser feito em grande quantidade e depois congelado em doses. E não é algo que necessite de supervisão constante. Falarei mais sobre isto em publicações futuras.
8. Além da alimentação vou ter que me livrar de todos os meus artigos de origem animal como roupa ou cosméticos?
Mais uma vez, a resposta a esta pergunta é individual. Na minha opinião, coisas que já foram adquiridas antes de termos esta sensibilidade e consciência do impacto das nossas escolhas não precisam, nem devem ir para o lixo. No meu caso, algumas dei, outras vendi, outras ainda tenho e utilizarei até não estarem boas. Mas isto tem a ver com limites pessoais, há pessoas que preferem livrar-se de tudo o que têm de origem animal, outras preferem dar uso às coisas e quando for altura de substituir, comprar algo mais sustentável. A resposta certa a esta pergunta é a que fizer sentido para cada um de vós. Peço-vos apenas que não desperdicem, se as coisas estão boas e não as querem, de certeza que haverá alguém que as pode ainda utilizar de bom grado.
9. Como lidar com a família e amigos durante esta mudança?
Pode ser stressante anunciar à família e amigos que queremos fazer uma mudança grande na nossa vida, principalmente quando a maioria das pessoas não compreende os porquês desta mudança. No entanto, há algumas coisas que podemos fazer para tornar esta decisão mais fácil para nós e para quem nos rodeia.
Devemos ser honestos e explicar que isto é uma mudança que queremos fazer. Podemos começar por falar com as pessoas mais próximas que achamos que são mais receptivas a esta informação.
Devemos lembrarmo-nos que já vimos o mundo como eles e que esta decisão é nossa e não os devemos julgar. Informar sim e comunicar abertamente mas sem julgamento e sem querer forçar os outros a mudar mas estar disponíveis para informar e ajudar quem tenha curiosidade sobre a mudança. Se algum amigo ou familiar se quiser juntar ao desafio, a motivação aumenta, no entanto isto não deve ser forçado.
10. Onde encontrar apoio e motivação?
Há muita gente que decide começar a caminhar em direcção ao veganismo e se sente perdida pois não conhece ninguém com as mesmas ideias e com quem partilhar informação e esclarecer dúvidas. Felizmente, cada vez há mais gente que partilha as mesmas ideias embora não as pratique ainda. Às vezes podemo-nos surpreender com as pessoas e ter apoio de alguém que nos compreende é muito importante.
Outro sítio que é uma fonte de motivação enorme é a comunidade online nacional e internacional. No Facebook há imensos grupos que se focam no vegetarianismo e veganismo. Aconselho o grupo Desafio Mês Vegetariano onde há mais pessoas no inicio da caminhada que partilham as suas experiências, dúvidas e sucessos.
Vejam a secção de Links no blog para mais informação. Deixem-me um comentário sobre os tópicos que gostariam de ver abordados no futuro na rubrica “Veganismo, como?”